Wednesday, December 19, 2007

acerca de "the end of the museum?" de nelson goodman



No seu artigo "the end of the museum?" o filósofo Nelson Goodman alude num tom jocoso, a uma comparação metafórica entre aquilo que se depreende que seja um museu, e aquilo que o distingue de outras demais instituições. De uma forma inspirada Goodman, leva-nos como crianças, pela mão, ao som de uma espécie de fábula alimentada por marcianos criativos e por terrestres sedentos de cumprir o sonho de um museu ideal. No entanto se as fábulas parecem histórias simples, dão-nos também perspectivas insondáveis de onde temos que fazer a destrinça para perceber onde está o lobo mau e a avozinha.

Se por um lado Goodman aponta como função principal do museu a de proporcionar algum “prazer inconsequente”, por outro lado surgem as questões práticas de como expor as obras, e todo um legado cultural que se quer protegido.

Assim, é ressalvado aqui uma espécie de limbo: o museu é encarado como local que inspira a valores humanísticos, mas também pode incitar ao vandalismo na medida em que só ali podemos encontrar obras que nunca poderão ser possuídas pelo vulgar dos indivíduos. Nestas posturas tão opostas somos alertados para questões centrais a discutir:

Qual é a verdadeira missão de um museu? ou seja, -
como chegar a Marte sem sair da Terra ?


Acerca da missão dos museus Goodman faz uma analogia que me parece bastante oportuna. Comparar um museu a uma biblioteca ajuda a perceber a questão do acesso. Se numa biblioteca o público que acede já sabe, à partida, como ler os livros que a compõem, o mesmo não sucede com as obras de arte patentes num museu. Torna-se missão munir o público das capacidades de percepção de uma obra de arte. Ensiná-lo a ler e a ver. “the museum has to function as an institution for the prevention and cure of blindness in order to make works work”.

Como curar então esta cegueira?
Quais os obstáculos?
E como se podem avaliar concretamente estes processos?

O autor aponta para a ideia de que, a visão que o museu nos dá influencia a visão que passamos a ter do mundo, e essa visão que passamos a ter do mundo vai influenciar o nosso retorno ao museu. Desta feita “the works work” quando se apela à estimulação do olhar, da percepção e da inteligência dos públicos, quando as obras ajudam a organizar e reorganizar a experiência do(s) mundo(s), no(s )mundo(s) e com o(s) mundo(s). As obras funcionam quando permitem um novo olhar que forma e transforma a própria visão das coisas e de nós próprios, interagindo com as experiências pessoais e com todos os processos cognitivos. É preciso então ter atenção a alguns obstáculos. O primeiro prende-se exactamente com a heterogeneidade dos seus públicos e por isso com a capacidade, ou não, do museu chegar a predisposições tão diferentes. O segundo fala-nos das condições concretas que o museu tem para fazer essa ligação. E o terceiro indica para a dificuldade de estabelecer um caminho que pode ser feito das mais diversas possibilidades. “There is no going forward or backward, no beginning and no end.”

Chegamos à conclusão que, o grande obstáculo do museu é ser esse mesmo local onde a “imutabilidade das obras e a volubilidade do visitante” têm que se encaixar. Como fazê-lo então? Nesta resposta surgem como fulcrais as diversidades de políticas em torno dos museus, que vão desde as concepções de espaço até à disposição das obras ou do marketing nelas implicadas. Mas continua a questão: “the works really work?” , e na sua tentativa de resposta o autor aponta para várias experiências, para vários pontos de vista, para outras questões. Será que se pode medir o sucesso de um museu? será a “saúde cultural” dos seus públicos que nos dará a chave para o desvendar destes processos?

Goodman parece inibir-se nas respostas, como se só quisesse indicar caminhos, como se se sentisse implicado nesta espécie de doença que só a cooperação entre a investigação e a prática podem sanar.

Entre tantas questões e tão poucas respostas sente-se no final do artigo uma espécie de angústia, um retorno ao início, mas retorno esse já munido de um outro olhar.

Talvez seja apenas disso que este artigo trata: dar novos olhares ao olhar, “make works work”




(foto: suli - visiter)

Sunday, April 15, 2007



"el educador de museo necesita darse cuenta de que es más interesante suscitar una pregunta en la mente del visitante que dar la respuesta, y una discusión sobre una cuestión planteada es, para el público no especialista, mucho más enriquecedora que simplemente escuchar un discurso sobre ella"














HARRISON, M.
in, HOMS, Mª Inmaculada Pastor Homs, (1992)
"El Museu y la Education en la Comunidad"
Madrid
Ediciones CEAC
(foto:alberto monteiro
"echo_sombra"
série - manipulações)

Thursday, April 12, 2007



"(...) paradoxically, after experiencing this temporary loss of consciousness, as we return to normal life, we tend to emerge with a greater sense of wholeness and integration - with a stronger sense of self."

















op.cit pag. 8
(foto:bogdan jarocki)


"it's been like a theatre where the play carries you along in time and place until you forget you're only a spectator. You grow unaware of the wall around you, of the program clasped in your hand, even of your body, its breadth, pulse, and being. You live with the actors and the setting, in a different age and place. It's not until the curtain drops the consciousness and body reunite"




op.cit. pag.6
(foto:elena retfalvi)

Wednesday, April 11, 2007



"(...) the aesthetic experience is a species of the genus 'optimal experience' which in my studies i also called the 'flow experience'.

This is a state of consciousness characterized by intense concentration bordering on oblivion, yet requiring complex mental or physical activity.





Various forms, games, sports, meditation, religious rituals, mathematical and scientific investigations are some of the activities that usually provide 'flow experiences'.





Despite the enormous differences in the content of such activities, the ensuing experience is remarkably similar, and is reported in the same terms by people in a great variety of different cultures, belonging to all social classes, levels of education, gender and age."




op.cit. pag.5
(foto:elena retfalvi-"birth")


" an aesthethic experience is more than the sum of its parts (knowledge, emotion, perceptual impact and communication): in fact it begins precisely when the various dimensions of consciousness meld together and we are no longer aware of "thinking", "feeling", "seeing" or "communicating" as separate processes. Total Immersion in the work of art is the magic experts and laypersons hope for when they visit a museum, but which they rarely attain."












CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly, "Notes on Art Museum Experiences", Education in Arts, University of Chicago,1989, pag.5
(foto: alberto monteiro "a sagrada família-barcelona - série - cenários quase vazios"

Sunday, April 8, 2007



"tenho sentido momentos em que tudo me parece de uma esterilidade negra, de impotência realizadora, de gosto, de inútil; outros de irradiação celeste, de fecundidade imensa, de um abrir ao criador como a flor se abre ao sol.Encontro este choque de sentimentos, massacre de ideias, onde pensamentos velhos resistem a pensamentos novos e pensamentos novos se formam de sentimentos velhos.Nos momentos de calma, de entrelutas, refaço as trincheiras da resistência, examino a minha capacidade de energia vital e aparece-me a vitória nítida."






(carta de Amadeo de Souza Cardoso à sua família - 1912)




(pintura: amadeo de souza cardoso
"retrato de francisco cardoso"
1912
óleo sobre cartão
35 x 27 cm
museu municipal souza-cardoso
amarante
portugal)

Saturday, April 7, 2007


" a criação artística não é um jogo ou um momento de descompressão, como poderão ser as sessões de expressão do imaginário, é uma necessidade vital.



A imaginação é a fuga do real, que faz viajar nas nuvens.



(...) há uma grande diferença entre o movimento que é a fuga do real e o outro que é o encontro do real. A criação é um esforço, como um parto, é um trabalho, no sentido em que falamos de uma mulher em trabalho de parto.



Uma criação é um sinal, quer dizer um movimento em direcção aos outros, eventualmente uma rebelião contra os outros, mas sempre um discurso para os outros."


op. cit.
(foto:elessar - "leave me alone")

"a diferença entre criação artística e expressão do imaginário é sobretudo a importância da forma. O artista situa-se entre o artesão e o louco: é um tipo de louco que domina uma técnica de expressão que lhe permite veicular um conteúdo fortemente carregado de emoção, é um louco que domina uma forma"
Op.Cit.
(foto:lilya corneli - "patchwork series")


" a criatividade não é só para indivíduos excepcionais. Se fizermos um percurso metódico, organizado, aberto democraticamente a todos, é o que faz nascer o corpus da criatividade das ideias. E é isto que faz da criatividade um objecto de estudo de investigação."




AZNAR, Guy, "Precisar o sentido da palavra 'criatividade'" - artigo apresentado no colóquio internacional sobre criatividade, Paris, Julho 2006
(foto:rodney smith)

Wednesday, March 28, 2007




"(...) entre nós e as palavras há crianças sentadas à espera do seu tempo..."


Mário Cesariny

(foto:al calkins - "untitled")